domingo, 10 de março de 2013

O Caminho de Emaús, entre a dúvida e a fé


             A dúvida é um sentimento comum entre os discípulos de qualquer denominação religiosa, pois é um sentimento humano, que influencia as nossas escolhas e decisões.
            Ela não é sempre negativa por permitir questionamentos, investigação, a correção de erros e o desenvolvimento do senso crítico, porém, o excesso de dúvida ou a permanência nela causam atrasos de toda sorte, pois a pessoa estaciona, não avança por não saber aonde ir e que decisão tomar.
            O relato evangélico do caminho de Emaús retrata este momento de dúvida, vivenciado pelos discípulos de Jesus, e sua superação. Podendo esta alegoria ser aplicada a muitos de nós.
            No evangelho de Lucas (24: 13-35) está descrito o relato completo, do qual apenas estou transcrevendo as partes principais. Relata Lucas que dois discípulos de Jesus, vindo de Jerusalém se dirigiam a Emaús. Durante a caminhada eles comentam sobre os acontecimentos recentes, os milagres e ensinamentos de Jesus, seu julgamento, crucificação e o desaparecimento do corpo. Enquanto eles caminham, Jesus se junta a eles, que não o conhecem, e exclama: ‘Que palavras são essas, que, caminhando, trocais entre vós e por que estais tristes?’
            Um dos  peregrinos relata os acontecimentos, terminando:
            ‘E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, com tudo isso, é já hoje o terceiro dia que estas coisas aconteceram. É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro; E, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive. E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e acharam ser assim como as mulheres haviam dito, porém, não o viram.
E ele lhes disse: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!’
            Jesus então lhes explica as escrituras e vai com eles à aldeia, sendo que lá ele fez como quem ia para mais longe, porém os discípulos o constrangem a ficar. Durante o jantar,  estando com  eles à mesa, Ele foi reconhecido ao partir o pão. Consta no evangelho: - Abriram-se-lhes, então, os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes.
            Este relato possui pontos de estudo e advertência importantes para todos quantos se dispõe a seguirem os ensinamentos do Cristo.
            A chegada ao espiritismo ocorre pelos mais diversos motivos, porém muitos deles se ligam a necessidades ou sofrimentos, dos quais o portador deseja se eximir.  Em freqüentando a Casa Espírita, estudando a doutrina, aprendemos os conceitos espíritas e recebemos a consolação das dores. O espiritismo é o consolador por natureza, ao fornecer o antídoto contra o sofrimento, que são o amor e o desapego, a caridade, benevolência e a fé raciocinada.
            Sentimos Deus junto de nós, na forma dos benfeitores espirituais que nos auxiliam, mas, algumas pessoas sentem uma necessidade real ou fictícia, que acaba levando a um distanciamento do Centro Espírita. Saem da Jerusalém simbólica e, como os discípulos citados no evangelho, caminham, comentando sobre o aprendizado, com uma certa dose de dúvida sobre a realidade dos ensinamentos aprendidos.
            Muitas pessoas julgam que podem ficar em casa estudando sozinhos, pois assim também irão aprender o espiritismo, mas pode ocorrer o que houve com os discípulos, falhas de entendimento, ou elaboração de conceitos errôneos. Falta o apóio mútuo, a discussão de idéias, que apenas o conjunto consegue elaborar.
            Freqüentemente surge o desencanto. Os discípulos queriam que Jesus remisse Israel – fosse um grande conquistador terreno, milagroso. Similarmente, quantas pessoas não chegam ao Centro espírita ou ao espiritismo querendo que se realizem milagres – cirurgias espirituais, transformações milagrosas (o marido parar de beber, o filho mais responsável ao namorar, curas, etc) ou então o fenômeno mediúnico próprio ou dos outros freqüentadores. Quando o espetáculo não ocorre, os neófitos se decepcionam – ‘tem belos ensinamentos, mas não é aquilo que eu esperava’.
            Parece que o trabalho e a manutenção do Centro, como a evangelização, as reuniões e grupos de estudo não são o bastante para apaziguar o espírito sedento de paz e consolação.
            Nestes momentos lembremos que Jesus está sempre conosco, nós auxiliando e orientando. Em seu nome, nos acompanham os espíritos guardiões – que tem a tarefa de um pai sobre seu filho, com respeito a nós. Ou seja, velam pelo nosso bem estar, acompanham cada pensamento, decisão e ação que tomamos. Alegram-se com os acertos e entristecem-se com os erros.
            O espiritismo nós fornece o conhecimento necessário para a compreensão plena da finalidade da reencarnação e como viver de forma a aproveitar o melhor possível as oportunidades concedidas.
            No relato evangélico, Jesus poderia ter ido mais longe, tanto quanto o espiritismo poderia avançar mais e nós próprios também.
            Mas as pessoas ‘cansam’, não querem avançar, alegando que está de noite, estão velhos, ou jovens, estão sem recursos, ou com outro problema qualquer.
            Ficamos então estacionados em uma hospedaria – confortavelmente instalados na nossa vidinha comum – casa, comida, emprego e salário,  constrangendo Jesus a estacionar conosco. Constrangendo os benfeitores espirituais a ficar parados e ao Conhecimento a ficar estagnado - como se isso fosse possível....
            Muitas vezes este conforto paralisa a alma – Joanna de Angelis relata que o sofrimento é uma das ferramentas de burilamento do espírito. A dor faz parte do aprendizado, que pode ocorrer pelo amor ou pela dor, de acordo com as escolhas que realizamos.
            A religiosidade e a fé costumam despertar em momentos de crise, de dor, e arrefecer em momentos de conforto pleno – ‘não tenho problemas, porque deveria pensar em Deus ou na vida espiritual?’.
            No relato, Jesus apenas é reconhecido ao realizar um fato material – abençoar e partir o pão. Muitas pessoas reconhecem apenas o espiritismo ou descobrem a religiosidade ao passarem por uma experiência material, ligada a uma vivencia espiritual, como, por exemplo, o fenômeno mediúnico, a cura desejada, a mudança de comportamento do companheiro. Porém, após o fenômeno, a manifestação mais ostensiva se retrai, tanto quanto Jesus desaparece da vista dos discípulos, deixando a estes a liberdade de escolha do que fazer.
            Assim também ficamos com a escolha do que fazer.
            Voltar a Jerusalém significa o retorno à espiritualidade, à fé e à vivência espírita-cristã. Que saibamos nós manter firmes na fé ou retornar a ela, com a humildade e alegria dos discípulos do evangelho. Que saibamos manter a paz que Jesus nós legou.

Franziska  

Próximas palestras no CEPT:

Quinta - feira
DATA: 14/03/2013
TEMA: O Ponto de Vista
(Ref.: EE - Cap. II - Itens 5 a 7)
EXPOSITOR(A): Mariângela Alves
DIRIGENTE: Marco Antônio Silva
PÁGINA: Fonte Viva - Cap. 97


Sábado
DATA: 16/03/2013
TEMA: O Mecanismo de Ação das Preces
(Ref.: EE - Cap. XXVII - Itens 9 a 15)
EXPOSITOR(A): Deividson Santos
DIRIGENTE: Hilton Werneck
PÁGINA: Pão Nosso - Cap. 65

Um comentário:

  1. Muito bom. Comentário profundo e oportuno sobre a possibilidade de irmos além, não só no conhecimento Espírita, mas principalmente, no trabalho Espírita.
    Muito felizes as suas palavras Fran, parabéns.

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